Arquivo de agosto, 2008

A Psicanálise era tão violentamente atacada hoje em dia pelos que pretendem substituí-la por tratamentos químicos, julgados mais eficazes porque atingiram as chamadas causas cerebrais das dilacerações da alma. Longe de constatar a utilidade dessas substancias e de desprezar o conforto que elas trazem, pretendi mostrar que elas não podem curar o homem de sus sofrimentos psíquicos, sejam eles normais ou patológicos.
A psicanálise restaura a idéia de que o homem é livre por sua falta e de que seu destino não s e restringe a seu ser biológico. Por isso, no futuro, ela deverá conservar integralmente o seu lugar, ao lado das outras ciências, para lutar contra as pretensões obscurantistas que almejam reduzir o pensamento a um neurônio ou confundir o desejo com uma secreção química.
O sofrimento psíquico manifesta-se atualmente sob a forma da depressão; o homem deprimido não acredita mais na validade nenhuma da terapia. No entanto, antes de rejeitar todos os tratamentos, ele busca desesperadamente vencer o vazio de seu desejo. Por isso, passa da psicanálise para a psicofarmacologia e da psicoterapia para a homeopatia, sem se dar tempo de refletir sobre a origem de sua infelicidade.
Forma atenuada da antiga melancolia, a depressão domina a subjetividade contemporânea, tal como a histeria do fim do século XIX. A depressão tornou-se a epidemia psíquica das sociedades democráticas, ao mesmo tempo que se multiplicam os tratamentos para oferecer a casa consumidor uma solução honrosa. A histeria não desapareceu, porém ela é cada vez mais vivida e tratada como uma depressão. O conflito neurótico contemporâneo parece já não decorrer de nenhuma causalidade psíquica oriunda do inconsciente. No entanto, o inconsciente ressurge através do corpo, opondo uma forte resistência às disciplinas e às praticas que visam a repeli-lo.
Alan Ehrenberg diz “o drogado é hoje uma figura simbólica empregada para definir as feições do anti-sujeito. Antigamente, era o louco que ocupava esse lugar. Se a depressão é a historia de um sujeito inencontrável, a drogadição é a nostalgia de um sujeito perdido”.
Quanto mais as instituições psicanalíticas implodem, mais a psicanálise está presente nas diferenças esferas da sociedade e mais serve de referencia histórica para a psicologia clinica que, no entanto, veio substitui-la. A língua da psicanálise transformou-se num idioma comum, falado tanto pelas massas quando pelas elites e, pelo menos, por todos os praticantes do continente “psi”. Hoje em dia, ninguém mais desconhece o vocabulário freudiano: fantasia, supereu, desejo, sexualidade etc… Por toda parte, a psicanálise reina soberana, mas em toda parte é colocada em uma concorrência com a farmacologia, a ponto, alias, de ela mesma ser utilizada como pílula. Isso pode ocorrer pelos próprios pacientes, submetidos à Barbárie da biopolítica, passaram a exigir que seus sintomas psíquicos tenham uma causalidade orgânica. Muitas vezes, sentem-se inferiorizados. Quando o medico tenta apontar-lhes uma outra via de abordagem.
Neste final do século XX, e em nome de uma clivagem arbitrária instaurada entre ciência e cultura, comemorou-se o centenário da psicanálise, portanto, exibindo em Washington um Freud sem cheiro nem sabor e limitado aos trabalhos de historiadores majoritariamente anglófonos (90%). Em suma, fabricou-se um Freud perfeitamente correto e conforme dos cânones da sociedade depressiva. Se Freud não houvesse inventado a pulsão de morte, por certo ficaríamos privados de uma representação trágica dos desafios históricos que a consciência moderna tem de enfrentar. Quanto à psicologia, ela se haveria perdida no culto hedonista do poder identitário para promover um sujeito liso e sem rebarbas, inteiramente encerrado num modelo físico-químico. Para compreender o que pode ser a racionalidade devemos mostrar que o critério de cientificidade de uma teoria depende tanto de sua aptidão para inventar novos modelos explicativos quanto de sua capacidade permanente de reinterpretar os modelos antigos em função de uma experiência adquirida.

Referências
ROUDINESCO, Elisabeth. Por que a psicanálise?. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2000.

O que me resta fazer quando penso, penso e não chego a conclusão alguma, eis a questão. Como disse Descartes, penso, logo existo. Existir e pensar o que seriam essas palavras distorcidas e desnudas em minha linguagem. O meu existir é a tentativa de entendimento do meu “eu” com a realização miníma do meu desejo. A questão é: O que desejo? O desejo oprimido entra em contato com a consciencia e traz a tona uma explicação para o bravo momento catastrófico, sim catastrófico; pois´o desejo é apenas desejo, depois de conquistado não é nem isso; não sei se é bom ou ruim, mas demorará para ele se transformar em nada. O que eu queria mesmo, era mata-lo! Mudaria as experiências que tive, elas estão me condenando. Me condenando a tortura do passado. A dor. O que era simples para mim, agora é o mais complicado. Talvez o passado não tenha influência nas contingências criadas no presente, mas para que eu o relembrei. A dor de antes é parecida com a de agora, mas em um envolvimento diferente, mas a dúvida é a mesma. Ver o mundo em terceira pessoa nos mostra coisas que não queriamos estar vendo, ouvindo, analisando.

“Quando me impus à tarefa de trazer à luz o que os seres humanos guardam dentro de si, não pelo poder compulsivo da hipnose, mas observando o que eles dizem e mostram, pensei que a tarefa era mais difícil do que realmente é. Aquele que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir pode convencer-se de que nenhum mortal pode guardar um segredo. Se seus lábios estão silenciosos, ele fala com as pontas dos dedos; ele se trai por todos os poros. Assim, a tarefa de tornar conscientes os mais escondidos recessos da mente é perfeitamente realizável.” (Sigmund Freud)

Nós só entendemos o que queremos entender, o que não nos importa é abstraido, esquecido!

Queria entender a analogia que fiz, entre minha idéia e a frase de Freud!

Do corpo da menina, nasce o arco-iris,
do arco-iris a sensação de se deitar na grama úmida;
a liberdade que resta é escondida pelas palavras não ditas.

O que é encoberto, é negado, desacreditado,
a dor sentida é pacífica, se cala no fim do dia,
o preto no branco atrás do azul, simples veracidade.

Contraditório é o desejo; a amargura; o amor; a angústia,
o que nos prende é essa liberdade…

Vivo testando a minha veracidade, essa que me desperta vontades, desejos, que me faz ter um rumo, um objetivo, mas acredito que a vida não precisa de uma acepção, ela simplesmente deve ser sentida. A vida deveria ser um sentimento, e não um encargo. O sentimento de viver, é diferente de simplesmente sobreviver. Vivo com intensidade, não deixo minhas pretensões para o dia seguinte. Quem vive dia por dia vê a vida passando lentamente, e desfruta do melhor dela; já quem vive pensando no futuro e em comtemplar suas ambiçõoes, apenas assiste a vida estendendo-se e goza de alguns momentos, não a admirando o essencial. Preocupações todos têm, mas para que? Nada é eterno, o “feliz para sempre” não existe. Até os momentos tristes e de desespero podem ser desfrutados com intenção de crescimento. As dificuldades surgem para o desenvolvimento.
Me pergunto agora, o por quê disto tudo escrito, parece texto de auto-ajuda para quem não tem sentido à vida. Tanto falo em como viver e não sobreviver, que parece que tento negar a maneira como vivo. Quem sabe? Às vezes a escrita me traz uma saída, me abre cominhos e eu volto a me enxergar em essência.