Mestre Fernando Sandri.
O que é Pa-kua? Conte um pouco de sua história e difusão pelo mundo.
Pa-kua é um conhecimento milenar que estuda as oito mutações dentro de qualquer área do desenvolvimento humano. No ideograma chinês, Pa significa oito e Kua significa mutação, transformação. A escola Pa-kua surgiu há 30 anos atrás com o mestre-fundador Rogelio I.M. Magliacano que faleceu no ano passado. Desde a infância, o mestre gostava de estudar artes marciais e depois começou a estudar Medicina Chinesa. Aos 20 anos começou a viajar, a convite das Federações Japonesas e Coreanas de Artes Marciais, para fazer testes e receber os certificados de graduação. Em uma dessas viagens ele conheceu um refugiado que o ensinou a arte Pa-kua, deixando-lhe completamente maravilhado com o que tinha aprendido. Retornando à Argentina decidiu que este conhecimento teria que ser ensinado para outras pessoas. As aulas começaram com um pequeno grupo e hoje são mais de 5 mil alunos em todo o mundo.
Qual a base da filosofia Pa-Kua?
Pa-kua é um conhecimento muito antigo e suas primeiras referências históricas foram através de desenhos em vasilhas pintadas há quase 5 mil anos atrás. Ensinamos Pa-kua através de diferentes disciplinas e atividades. O mais importante não é a disciplina em si, mas sim a ferramenta e o caminho para ensinar o conteúdo e as técnicas das artes marciais. O que fazemos não é apenas filosofia e sim uma linha de pensamento, porque vai um pouquinho além da filosofia, seria na verdade a filosofia mais a ação. O mais importante é o conhecimento e o que você aprende enquanto está praticando a arte marcial. Nessa prática milenar, os discípulos podem optar por várias aplicações do conhecimento de acordo com as suas necessidades e interesses, onde são estudadas as artes: Arte Marcial e Defesa Pessoal, Armas de Corte, Reflexologia, Cosmodinâmica (Tai Chi), Sintonia (Yoga Chinesa) Acrobacia e Ritmo.
No padrão Pa-kua são trabalhados os elementos físicos. Qual a relação entre mente e corpo?
Corpo e mente é a mesma coisa, duas caras da mesma moeda. Se um lado não está bem, vai refletir no outro. Este é um princípio fundamental onde temos que nos posicionar em um objetivo central, no sentido em que é importante desenvolver o conhecimento, a saúde e o físico ao mesmo tempo. Procuramos desenvolver a parte técnica, filosófica, compreensão e harmonia espiritual, mesmo não tendo nenhuma influência religiosa em nossas atividades.
Quais os maiores benefícios e o conhecimento da Pa-Kua para o praticante?
Todas as modalidades, sem exceção, estão montadas sobre uma lógica e um conhecimento. O nosso plano de estudo está montado em cima do princípio Yin e do Yang que é considerado um símbolo universal. O passo sucessivo é quando aparece uma terceira posição, onde caracterizamos o extremo Yin, que é chamado de terra, e o extremo Yang, que é chamado de céu, e entre os dois está o homem. Seguindo esta filosofia, o homem é caracterizado como uma junção desta energia entre o céu e a terra. Seguindo um outro sistema de classificação, entendemos que as coisas, o universo, a natureza e qualquer atividade que o ser humano faça, pode ser compreendido e estudado através deste conhecimento.
Existe um sistema próprio onde são trabalhados
os cinco elementos? Quais são eles?
Os cinco elementos são: fogo, terra, metal, água e madeira. Cada um tem a sua característica própria, são regidos por leis, e através de estudos podemos compreender inúmeras coisas, como por exemplo,
a nossa saúde.
O que são as oito mutações ou transformações Pa-Kua?
É a representação de uma linha que chamamos de Céu, onde poderia ser caracterizada pela sua capacidade mental e criativa. Uma linha homem, caracterizada pela sua capacidade de se relacionar com as pessoas, e uma linha terra caracterizada pela sua capacidade física, como saúde, e a capacidade atlética. Cada uma dessas três possibilidades pode ser yin ou yang. Se matematicamente você varia três níveis em duas diferentes opções, você encontrará oito diferentes trigramas, e cada um deles são as figuras que representam os oito estados de mutação ou transformação Pa-kua.
Como é este conhecimento milenar trabalhado hoje? Houve alguma adaptação?
O que muda são apenas as circunstâncias na qual você usa ou aplica essa ferramenta. O que muda são as atitudes e os objetivos. O conhecimento é exatamente o mesmo que foi desenvolvido há milhares de anos e perdura até hoje com muita intensidade, sendo caracterizado como uma tendência mundial. O conhecimento não evoluiu, o que evolui é a forma e a circunstância na qual cada um utiliza.
Como a arte Pa-Kua é vista em outros países do mundo e aqui no Brasil?
Tive a oportunidade, nesses últimos anos, de viajar muito e pude conhecer lugares de uma forma especial, muito transparente e profunda. E algo que chama atenção em vários países, onde estamos trabalhando hoje, é que não existem grandes diferenças em relação à prática Pa-kua. Nós aplicamos o mesmo modelo e conhecimento em todos os lugares.
Qualquer pessoa, independente da idade, pode praticar Pa-Kua?
Sim. O ideal é que comece a partir dos quatro anos de idade. Com os idosos trabalhamos de acordo com a capacidade de cada um. Nossos instrutores oferecem uma aula adequada, onde os alunos possam acompanhar e desenvolver as atividades. Cada aula é exclusiva e trabalhada de acordo com a individualidade de cada aluno.
Como é o método de graduação?
No início não havia graduações, o mestre avaliava o discípulo, e quando julgava necessário o qualificava. Com a necessidade de incentivar e promover o discípulo, de uma forma diferenciada, foi criado o método de graduação através de faixas, com uma expectativa de crescimento de meta tangível. Acreditamos que esse método é uma ferramenta muito importante e algo positivo para o nosso trabalho. No sistema de graduação das oito faixas de diferentes cores, quando se atinge a última, de cor preta, você passa pelo processo de mais oito faixas que são dadas pelos graus: do primeiro até o oitavo.
Como foi sua trajetória na prática da Pa-kua?
Eu nasci na Argentina e pratico há mais de 20 anos. Fui convidado por um amigo para formar sua primeira turma, comecei a participar das aulas e nunca mais deixei de praticar. Me apaixonei pela arte Pa-Kua e me dediquei 100% ao trabalho de especialização. Comecei a viajar freqüentemente para coordenar o movimento que hoje está na Itália, Alemanha, Portugal, Espanha, Inglaterra e Brasil. Atualmente moro em Firenze, na Itália, e sou mestre VII grau e dupla distinção línea dourada.
Qual a importância dos eventos Itinerâncias?
O evento é sempre um momento especial para nós, onde temos a oportunidade de nos encontrar. É organizada uma série de atividades com longas jornadas e avaliações dos alunos, onde entregamos novas faixas e certificados. Estarei agora viajando para Florianópolis onde serão realizadas as aulas internacionais de Pa-Kua, que é um dos eventos mais importantes do mundo para nossa escola e pela primeira vez será aqui no Brasil. Estarão presentes mestres da Europa, Estados Unidos, Argentina e também mestres de todo o Brasil.
Deixe uma mensagem para os nossos leitores.
Meu recado é no sentido das pessoas procurarem algum método de estudo e de prática que permitam o conhecimento de cada um por si mesmo, cada um na sua essência. Algo que lhes permita conhecerem mais a si próprios, o que trará uma sensação muito boa. Quando você sabe o que quer, quem você é, e para onde vai, todas as suas decisões são muito mais nítidas na busca da felicidade e bem-estar, porque você está fazendo alguma coisa que coincide com seu objetivo final, com a sua verdadeira essência. Para isso é preciso obter conhecimento, conhecer seus limites físicos, o funcionamento do corpo e conhecer um pouco da filosofia oriental que tem muito a nos ensinar. A prática da meditação também é fundamental neste processo.
por viviane santos
fotos mauro marques