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A Psicanálise era tão violentamente atacada hoje em dia pelos que pretendem substituí-la por tratamentos químicos, julgados mais eficazes porque atingiram as chamadas causas cerebrais das dilacerações da alma. Longe de constatar a utilidade dessas substancias e de desprezar o conforto que elas trazem, pretendi mostrar que elas não podem curar o homem de sus sofrimentos psíquicos, sejam eles normais ou patológicos.
A psicanálise restaura a idéia de que o homem é livre por sua falta e de que seu destino não s e restringe a seu ser biológico. Por isso, no futuro, ela deverá conservar integralmente o seu lugar, ao lado das outras ciências, para lutar contra as pretensões obscurantistas que almejam reduzir o pensamento a um neurônio ou confundir o desejo com uma secreção química.
O sofrimento psíquico manifesta-se atualmente sob a forma da depressão; o homem deprimido não acredita mais na validade nenhuma da terapia. No entanto, antes de rejeitar todos os tratamentos, ele busca desesperadamente vencer o vazio de seu desejo. Por isso, passa da psicanálise para a psicofarmacologia e da psicoterapia para a homeopatia, sem se dar tempo de refletir sobre a origem de sua infelicidade.
Forma atenuada da antiga melancolia, a depressão domina a subjetividade contemporânea, tal como a histeria do fim do século XIX. A depressão tornou-se a epidemia psíquica das sociedades democráticas, ao mesmo tempo que se multiplicam os tratamentos para oferecer a casa consumidor uma solução honrosa. A histeria não desapareceu, porém ela é cada vez mais vivida e tratada como uma depressão. O conflito neurótico contemporâneo parece já não decorrer de nenhuma causalidade psíquica oriunda do inconsciente. No entanto, o inconsciente ressurge através do corpo, opondo uma forte resistência às disciplinas e às praticas que visam a repeli-lo.
Alan Ehrenberg diz “o drogado é hoje uma figura simbólica empregada para definir as feições do anti-sujeito. Antigamente, era o louco que ocupava esse lugar. Se a depressão é a historia de um sujeito inencontrável, a drogadição é a nostalgia de um sujeito perdido”.
Quanto mais as instituições psicanalíticas implodem, mais a psicanálise está presente nas diferenças esferas da sociedade e mais serve de referencia histórica para a psicologia clinica que, no entanto, veio substitui-la. A língua da psicanálise transformou-se num idioma comum, falado tanto pelas massas quando pelas elites e, pelo menos, por todos os praticantes do continente “psi”. Hoje em dia, ninguém mais desconhece o vocabulário freudiano: fantasia, supereu, desejo, sexualidade etc… Por toda parte, a psicanálise reina soberana, mas em toda parte é colocada em uma concorrência com a farmacologia, a ponto, alias, de ela mesma ser utilizada como pílula. Isso pode ocorrer pelos próprios pacientes, submetidos à Barbárie da biopolítica, passaram a exigir que seus sintomas psíquicos tenham uma causalidade orgânica. Muitas vezes, sentem-se inferiorizados. Quando o medico tenta apontar-lhes uma outra via de abordagem.
Neste final do século XX, e em nome de uma clivagem arbitrária instaurada entre ciência e cultura, comemorou-se o centenário da psicanálise, portanto, exibindo em Washington um Freud sem cheiro nem sabor e limitado aos trabalhos de historiadores majoritariamente anglófonos (90%). Em suma, fabricou-se um Freud perfeitamente correto e conforme dos cânones da sociedade depressiva. Se Freud não houvesse inventado a pulsão de morte, por certo ficaríamos privados de uma representação trágica dos desafios históricos que a consciência moderna tem de enfrentar. Quanto à psicologia, ela se haveria perdida no culto hedonista do poder identitário para promover um sujeito liso e sem rebarbas, inteiramente encerrado num modelo físico-químico. Para compreender o que pode ser a racionalidade devemos mostrar que o critério de cientificidade de uma teoria depende tanto de sua aptidão para inventar novos modelos explicativos quanto de sua capacidade permanente de reinterpretar os modelos antigos em função de uma experiência adquirida.

Referências
ROUDINESCO, Elisabeth. Por que a psicanálise?. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2000.